quarta-feira, 18 de abril de 2018

A minha avó...


... faria hoje 100 anos, se ainda vivesse em carne e osso. E por falar em números, sempre achei engraçado uma coincidência matemática que se deu em 2000, dois anos antes de ela partir. Nessa data, eu fiz 18 anos e ela 82. Fácil é também concluir que ela nasceu em 1918 e eu em 1982.

Pois bem, mas serve este post (julgo encontrar semelhantes nesta precisa data, em cada um dos dias homónimos de existência deste blogue) para escrever mais uma vez sobre ela. Que o mesmo é dizer, falar sobre o tempo. O mesmo que, infelizmente, já me faz ter esquecido do tom da sua voz , mas que, felizmente, me faz continuar a recordar tudo, mas tudo mesmo o que ela representa para mim. Recordar também todos os cheiros e sons que rodearam a minha infância feliz na sua convivência.

A água da ribeira e a roupa lavada à mão, a corda ao relógio, a metade do frango assado que comprávamos nos sábados de Verão, o café mokambo, o chá de cidreira, a botija de água quente, os pontos do crochet, o caldo de arroz e bacalhau, o acender da lareira, o colorau dentro do armário, o limpar o pó, o mudar de canal a televisão a preto e branco, o regar as flores, os coelhitos, os lençóis de flanela, a máquina de costura de dar ao pedal, a campainha da porta, as maçãs amarelas pacientemente "esboladas", os ditados, os carapaus fritos, o telefone de rodar.

Minha nossa, tantas coisas. Assim de repente, já só não há coelhos, a televisão já tem cor (embora a ligue cada vez menos!) e o telefone passou a digital. De resto, são tudo coisas que ainda fazem parte do meu quotidiano. Por causa de ti! É reconfortante imaginar que, de alguma forma, ainda possas estar aqui algures, atrás de alguma nuvem a olhar para/ por mim.

Serão raríssimos os dias em que não me lembro de ti, Maria da Encarnação. Ensinaste-me tantas coisas boas, práticas e teóricas, umas conscientemente outras só por seres como eras. Carinhosa, de pele macia, e resistente. Como eras resistente. Todas essas parcelas que me foste dando, somei-as todas cá dentro. É da tua fibra que sou feita.

Tenho muita pena de já não ter conseguido levar-te a passear de carro. Mas tenho, também, a maior sorte do mundo de poder ter sido criança ao pé de ti.

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