quarta-feira, 3 de março de 2021

O mundo digital

Para início de conversa, sai música de fundo para acompanhar a leitura deste post.

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O mundo digital (com particular enfoque nas redes sociais) e, muito especificamente, o seu cruzamento com o mundo jornalístico - em que trabalho e que consumo enquanto pessoa - tem-me dado voltas à cabeça nos últimos meses. Sim, também utilizo redes sociais (essencialmente o FB e o Instagram), ambas no contexto pessoal e a primeira em contexto de trabalho. Sim, alguma da percentagem em que as utilizo também tem a ver com voyuerismo. E depois tenho um blogue que já vai no seu 15º de existência, ok.

Mas incomodam-me demasiados pormaiores: 

- que qualquer dúvida que tenhamos (seja de gramática, seja um pormenor histórico, etc) tenha esclarecimento imediato no google;

- que o marketing se tenha imiscuído tanto no jornalismo que, hoje em dia, uma notícia seja sinónimo de conteúdo;

- que já poucas pessoas percebam a diferença entre conteúdo e notícia;

- que ter estudado quatro anos na área da comunicação social, pareça cada vez mais pouco valer, em determinados contextos;

- a expressão "produtor de conteúdos";

- que o principal objectivo da maioria das coisas que se escrevem ou se gravam, em áudio e em vídeo - incluindo notícias puras e duras - seja ser lido, ouvido ou visto "o maior número possível de vezes";

- que uma grande parte das pessoas coloque um "like" no FB, just because, sem ler, ouvir nem ver na íntegra ou, vá, uma parte significativa;

- que uma grande parte das pessoas passe a maior parte da vida em frente ao écran e que a tomada de determinadas posições e opiniões seja unilateral;

- que se esteja a perder a lógica de dar conta do nosso ponto de vista e de ouvir o ponto de vista do outro (não necessariamente por esta ordem!); este ponto, em particular, parece-me impossível de conseguir na escrita, em plenitude julgo que só se conseguirá através da fala, da conversa;

- que conversar, na sua verdadeira acepção, pareça estar a cair em desuso;

- a fixação em teclar (demasiadas) alarvidades nas caixas de comentários, como se houvesse verdades universais;

- acreditar-se, aparentemente, que "teclar é poder".

Utilizando outra palavra por demais usada no mundo digital, não sou negacionista relativamente a este assunto. Aos longo dos anos, a tecnologia tem trazido e continua a trazer avanços incríveis, para o Homem e para o Planeta. Comparativamente com outras eras, e com povos desta mesma era noutros pontos do Globo, a tecnologia tem-me proporcionado uma qualidade de vida inigualável. Mas confesso inquietude quando ao futuro, no curto, médio e também longo prazo.

Enfim, feito este enquadramento, e enquanto não confirmo uma ansiada entrada em novos mundos, resta fazer o que todos, na verdade, fazemos: retirar deste "melting pot" aquilo que considero mais relevante para o meu mundo. Um mundo que não é melhor nem pior do que os outros mundos. É apenas meu. E, nos intervalos, ir escutando/ lendo/ pensando umas e outras coisas.  

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