sexta-feira, 26 de julho de 2013

(more than) words

Não sou assim tão amante nem conhecedora de poesia, como certas partilhas - neste blogue e tb no FB - poderão, eventualmente, fazer crer. Gosto, sim, de descobrir, ao acaso - em poesia ou em prosa - palavras que, não sendo escritas por mim, pegam literalmente em pedaços da minha vida, do meu sentir, enfim, da minha existência. Julgo que uma das coisas bonitas que a literatura tem é essa mesma. Falar por nós. Falar de nós. Como se assistíssemos, de fora, à nossa própria vida e escutássemos um/a narrador/ a falar dela. É esse o caso que partilho abaixo, em especial as palavras que destaquei. E mais uma semanas passou.


Muitas vezes te esperei, perdi a conta,
longas manhãs te esperei tremendo
no patamar dos olhos. Que me importa
que batam à porta, façam chegar
jornais, ou cartas, de amizade um pouco
...
- tanto pó sobre os móveis tua ausência.

Se não és tu, que me pode importar?
Alguém bate, insiste através da madeira,
que me importa que batam à porta,
a solidão é uma espinha
insidiosamente alojada na garganta.

Um pássaro morto no jardim com neve.

Nada me importa; mas tu enfim me importas.
Importa, por exemplo no sedoso
cabelo poisar estes lábios aflitos.
Por exemplo: destruir o silêncio.
Abrir certas eclusas, chover em certos campos.
Importa saber da importância
que há na simplicidade final do amor.
Comunicar esse amor. Fertilizá-lo.

«Que me importa que batam à porta...»
Sair de trás da própria porta, buscar
no amor a reconciliação com o mundo.

Longas manhãs te esperei, perdi a conta.
Ainda bem que esperei longas manhãs.
e lhes perdi a conta, pois é como se
no dia em que eu abrir a porta
Do teu amor tudo seja novo,
Um homem e uma mulher juntos pelas formosas
inexplicáveis circunstâncias da vida.

Que me importa, agora que me importas,
que batam, se não és tu, à porta?


Fernando Assis Pacheco

Sem comentários: