quinta-feira, 16 de maio de 2013

Ora Eça

Por estes dias tenho lido pouco. Poucos livros, digo. Por falta de tempo, por comodismo ou pela vulgar preguiça mental. Mas continuo a gostar. Continuo atenta às novidades e às páginas de sempre. Tenho várias pilhas de livros ordeiramente desarrumadas no meu quarto (que é também a minha sala de não estar). Livros que vou amealhando. A maioria são para ler daqui a uns anos. Em tardes mornas. Em noites de paz.
 
Mas também gosto de levar livros emprestados para casa. E gosto de percorrer com os olhos e com os dedos as prateleiras da biblioteca daqui. Às vezes em busca de algo particular. Outras para fazer descobertas mesmo novas. Ontem, nas leituras pós-almoço, levantei-me do sofá preto e fiz essa tão gostosa viagem. Acabei por trazer debaixo do braço 2 livros sobre o meu querido Eça. Não sei porque gosto dele. Lembro-mem, como se fosse hoje, de ser miúda e sacar de uma prateleira lá de casa um exemplar d' "Os Maias", bem velhinho. Ainda não tinha idade para lhe perceber o conteúdo, mas recordo-me que iniciei a leitura, não tenho já a certeza se a terei terminado por essa altura. Tenho, sim, a certeza de que mais tarde viria a estudar esse mesmo romance já na escola e já com idade para lhe perceber os contornos.
 
Não é um gosto incomum. O gosto pelo Eça é partilhado por imensas pessoas por esse país e por esse mundo fora. Mas julgo que a figura dele é/era muito amistosa. Para lá dos livros, das reflexões, fascinam-me as fotós. Fascina-me a vida que viveu. Em Coimbra, em Lisboa, em França, em Inglaterra. Fascina-me o aprumado das "sobrecasacas" que usava. A bengala, o monóculo, a perna cruzada. E aquele franja triangular.
 
O primeiro livro que folheei ontem tem então frases curtas e breves sobre isto tudo. E imagens. Muitas.
O segundo é um desafio maior, que consiste numas quantas centenas de páginas. Cerca de 7. Centenas, disse!
 
De resto, aqui há uns anos li uma biografia. Lembro-me que era um livro preto. E ontem, levantei-me e fui em busca para recordar o título. Já muitas leituras me fizeram sorrir. Poucas foram as que me fizeram chorar. Talvez só uma. A que cito abaixo. É assim que acaba a biografia de que acabo de falar ["A vida de Eça de Queiroz", Luís Viana Filho]
 
...
 
 
 
 
Eça sentia-se exausto. A cera da vida acabava: Estava-se a 16 de Agosto de 1900. Entretanto, com ténue chama de esperança, ele dissera a Emília: "Isto vai ser uma longa doença!" (...) Respirava serenamente. Duas janelas abertas sobre o jardim deixavam ver as tílias que ele tanto amara. Ao lado da cama, chorando perdidamente, Emília ajoelhara-se inconsolável - o seu romance acabara. 
 

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