segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Avó

Faz hoje 6 anos que a minha avó se foi embora (Não especifíco de que lado era porque só conheci um avô e uma avó, ambos do lado da mãe). Soube-o depois de uma frequência na ESEC, mas de uma maneira "estranhamente estranha", pois nos seus últimos anos de vida, esteve em 3 ou 4 lares e eu já não tinha aquela convivência com ela, como tive na infância.

Mas a influência que ela exerceu em mim foi grande e profunda. Ensinou-me a cozinhar, a costurar, a rezar, a rir, a fazer renda, a pedir perdão (aqui ainda falho), a fazer a cama todos os dias porque, como dizia "nunca sabemos como vamos regressar a casa" (mea culpa: nos últimos tempos tb tenho falhado aqui...). E tantas, tantas outras coisas bonitas.

Obrigada, avó.

Como eu tenho pena de só teres estado comigo e eu contigo na minha infância/adoslescência e não poder partilhar contigo a minha idade actual. Porque tu, sim, ias saber orientar-me.

Já há algum tempo que não vou visitar-te ao cemitério, mas penso em ti muitas vezes. Quando lá vou não consigo conter as lágrimas, e acho que nunca vou conseguir. É a minha maneira de te agradecer tudo o que me ensinaste.

A casa da minha avó ainda está de pé, e é mesmo quase ao lado da minha, em Ansião. Há vários anos, e devido à rebeldia da adolescência, durante uns tempos não me apetecia tanto lá ir e ela, um dia disse-me, com o carinho de sempre na sua voz: "Um dia hás-de querer cá vir e eu não vou estar cá". Como é verdade... O que eu daria por poder tocar à sua campanhia e poder deitar-me nos lençóis de flanela quentinhos que ela tinha! E poder comer bolachinhas. E voltar a fazer as pseudo-malas (roupa colocada dentro de alguns sacos de plástico, que orgulhosamente transportava numa viagem de 5 min a pé para casa dela!) e voltar a passar lá as minhas férias de Verão. E a lanchar pãozinho molhado em água com açúcar (ganda maluca lol) e almoçar salada de tomate e atum!

Na minha memória, ainda oiço os sons da tua casa. Ainda sei o que tinhas dentro da tua carteira de mão (algumas moedas, um pente, um lenço e um terço) e ainda me lembro do que comprávamos no mercado aos sábado (metade de um frango assado, um pão e um saquinho de tremoços - quando lá volto, ainda os compro. Desconfio porquê). Apesar de já não ir à missa, lembro-me de estar à tua beirinha ao lado da cama e de tu me ensinares a Salvé Rainha (de quando em vez ainda rezo, sim). E sei de cor o lugar onde me sentava contigo na igreja, ao sábado à noite.

Para além de todas as coisas não materiais que guardo de ti, sou eu que tenho o teu relógio de corda azul, que tu alimentavas todas as noites antes de o pousares na cadeirinha ao lado da cama. Não levas a mal, pois não? Nunca me irei separar dele, porque também ele tem um pedacinho de ti!

Posso, enfim, dizer com orgulho, que tive 2 mães! Obrigada avó, espero um dia voltar a estar pertinho de ti :)

Sabes qual é a última recordação que tenho de ti viva? Foi quando te fui visitar ao hospital em Alvaiázere e te pus a mão na testa. Como estava quentinha.

É verdade, sabias que acho que herdei de ti o gostinho por chá, por café Mokambo e pela Rádio Renascença? Ah: e ainda me benzo todas as noites, como TU me ensinaste.

Como vês avó, tu não morreste. Estás sempre connosco e afianço-te: eu também estou naquela fotografia que tenho guardada em casa e em que está tu novinha (provavelmente com a minha idade) com uma das tuas irmãs à porta da tua casa de solteira. Eu não sou tu, mas foste tu que me fizeste ser muito do que sou hoje.

P.S.: Não quero fazer norma de postar aqui cenas neste horário, mas hoje acho que mereço perdão.

Nota final: Oh avó, olha que ainda tenho guardada lá em casa, numa das minhas caixinhas de recordações, uma folhinha branca dobrada em 4, onde te tentei ensinar a escrever o teu nome. Lembras-te? Como escreveste bem Maria!

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