terça-feira, 27 de março de 2012

Leonel

Estás prestes a ser o funeral de um jovem de 49 anos, natural de Ansião e de uma aldeia - a Constantina - que me é muito especial e que faz parte da minha vida, da minha infância e de mim. Chamava-se Leonel e, nos últimos meses, lutou contra um cancro injusto, como o são todos os cancros. Uma jornada que ontem o adormeceu para a eternidade. O pai dele já tinha falecido precocemente há uns anos, deixando uma viúva simples e lutadora com 2 filhos para cuidar. Foi essa simplicidade e essa luta que deixou ao filho e são esses dois adjectivos que nos fazem e farão recordá-lo. Não era muito próxima dele, até porque a sua vida profissional e familiar era lá longe, em Braga. Foi lá que construiu uma carreira e uma vida cheia de predicados, que sempre lhe foram reconhecidos. O maior deles, foi exactamente a humildade. Foi sempre isto que ia ouvindo da minha mãe, que o conhecia melhor, nomeadamente pelo convívio em lides políticas. E, de facto, era isto que transparecia nos "olás" que ia dando e no cumprimento doce que, há uns meses (ainda ele não sabia da doença, ou se sabia era há pouco tempo), me deu, assim como às outras pessoas na sala, num contexto comum de trabalho.

Fui ali fora há pouco e vi um senhor das irmandades, que acompanham os funerais nestas ocasiões. E pus-me a pensar como é que estas pessoas mais velhas vêem partir as outras pessoas, em especial as mais novas.

Penso na mãe, que é irmã de uma tia minha. Que, nos últimos meses, tinha espelhado na cara o sofrimento de que daria tudo para ficar com a dor do filho. Cuja doença foi fragilizando mais e mais, até ontem. Volta a sentir na pele a partida de um ente querido, anos depois de se ver sozinha a criar os 2 filhos rapazes.

A bandeira aqui na Vila está a meia haste. E eu vou manter os auscultadores nos ouvidos, para evitar ouvir hoje, pela segunda, o som dos sinos, que tanto me atormenta a alma. Podia ir à missa, pois podia, mas hoje escolho não ir. Este ritual é sufocante para o que ficam e, em especial, para a família enlutada. Esta é a minha pequena homenagem e aqui fica o meu respeito e admiração pelo Leonel. Apesar de ser um estimado Professor Doutor, será para sempre recordado como o Leonel da Constantina, com o seu sorriso simples, mas tão revestido de tudo.

É sempre triste ver partir uma Pessoa, qualquer que ela seja, com defeitos e virtudes, como todos temos. Mas essa tristeza eleva-se ao quadrado, quando se trata de uma Pessoa Boa e Justa, a quem a doença não doeu tréguas. E foi despindo, a cada dia, fazendo da sua imagem apenas uma recordação...

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