quarta-feira, 31 de julho de 2013

O amor é fodido | Miguel Esteves Cardoso


Nascemos todos com vontade de amar. Ser amado é secundário. Prejudica o amor que muitas vezes o antecede. Um amor não pode pertencer a duas pessoas, por muito que o queiramos. Cada um tem o amor que tem, fora dele. É esse afastamento que nos magoa, que nos põe doidos, sempre à procura do eco que não vem. Os que vêm são bem-vindos, às vezes, mas não são os que queremos. Quando somos honestos, ou estamos apaixonados, é apenas um que se pretende.

Tenho a certeza que não se pode ter o que se ama. Ser amado não corresponde jamais ao amor que temos, porque não nos pertence. Por isso escrevemos romances — porque ninguém acredita neles, excepto quem os escreve.
...
Viver é outra coisa. Amar e ser amado distrai-nos irremediavelmente. O amor apouca-se e perde-se quando se dá aos dias e às pessoas. Traduz-se e deixa de ser o que é. Só na solidão permanece. […]

Tenho o meu amor, como toda a gente, mas não o usei. Tenho também a minha história, mas não a contei. O romance que escrevi, escrevi-o para quem não quer saber dos amores ou das histórias de ninguém. Não contei nem inventei nada. Não usei nem pessoas nem personagens. Fugi. Quis mostrar que pertencia ao mundo onde o amor, como as histórias e os romances, existem só por si. Como se me dirigisse a alguém. Outra vez.
É sempre arrogante e pretensioso escrever sobre uma coisa que se escreveu. Apenas posso falar do que foi aminha vontade: escrever sobre o amor, sem traí-lo, defini-lo ou magoá-lo; deixando-o como era, antes da primeira palavra que escrevi. Seria inadmissível pôr-me aqui a cismar se consegui ou não fazer o que eu queria. Como seria dizer que não sei. Sei. Sei que não consegui. Só espero não tê-lo conseguido bem.

Florbela Espanca

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem sorte,
Sou a irmã do sonho, e desta sorte,
...
Sou a crucificada...a dolorida...

Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!

wes alane



Há sons que trazem tantas, mas tantas recordações. Há minutos, estava aqui a ouvir uns quantos exemplares dos anos 90 e reoiço isto. "Ós" anos. Ouvi tantas vezes no meu quarto. Foi um dos primeiros cds que comprei, há uma "porrada" de anos. lembro-me tão bem dos vários "trejeitos" desta música em particular. Muito bom recordar. MESMO

sexta-feira, 26 de julho de 2013

(more than) words

Não sou assim tão amante nem conhecedora de poesia, como certas partilhas - neste blogue e tb no FB - poderão, eventualmente, fazer crer. Gosto, sim, de descobrir, ao acaso - em poesia ou em prosa - palavras que, não sendo escritas por mim, pegam literalmente em pedaços da minha vida, do meu sentir, enfim, da minha existência. Julgo que uma das coisas bonitas que a literatura tem é essa mesma. Falar por nós. Falar de nós. Como se assistíssemos, de fora, à nossa própria vida e escutássemos um/a narrador/ a falar dela. É esse o caso que partilho abaixo, em especial as palavras que destaquei. E mais uma semanas passou.


Muitas vezes te esperei, perdi a conta,
longas manhãs te esperei tremendo
no patamar dos olhos. Que me importa
que batam à porta, façam chegar
jornais, ou cartas, de amizade um pouco
...
- tanto pó sobre os móveis tua ausência.

Se não és tu, que me pode importar?
Alguém bate, insiste através da madeira,
que me importa que batam à porta,
a solidão é uma espinha
insidiosamente alojada na garganta.

Um pássaro morto no jardim com neve.

Nada me importa; mas tu enfim me importas.
Importa, por exemplo no sedoso
cabelo poisar estes lábios aflitos.
Por exemplo: destruir o silêncio.
Abrir certas eclusas, chover em certos campos.
Importa saber da importância
que há na simplicidade final do amor.
Comunicar esse amor. Fertilizá-lo.

«Que me importa que batam à porta...»
Sair de trás da própria porta, buscar
no amor a reconciliação com o mundo.

Longas manhãs te esperei, perdi a conta.
Ainda bem que esperei longas manhãs.
e lhes perdi a conta, pois é como se
no dia em que eu abrir a porta
Do teu amor tudo seja novo,
Um homem e uma mulher juntos pelas formosas
inexplicáveis circunstâncias da vida.

Que me importa, agora que me importas,
que batam, se não és tu, à porta?


Fernando Assis Pacheco

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Sintra & Viana do Castelo


O quadro internacional que tinha vindo a construir nos últimos tempos transformou-se em algo mais caseiro. Porque Portugal  é um país magnífico. Os destinos foram escolhidos basicamente ao acaso, cumprindo só o requisito de, por motivos mais ou menos inconscientes, me suscitarem curiosidade. O período temporal é o mesmo e espero que desta vez nada me faça mudar de planos. A expectativa volta a estar então de novo em altas. O pc vai atrás, para ocupar uma parte das manhãs, mas o resto será exploração, de descanso e bom trato. A mochila é a minha eterna e única companhia.

Posto isto, o calendário é este:

Sábado, 24 de Agosto: Pombal-Oriente-Sintra
7 noites
Sábado, 31 de Agosto: Sintra-Oriente- Porto(Campanhã)- Viana do Castelo
6 noites
Sexta-feira, 6 de Setembro: Viana do Castelo-Porto(Campanhã)-Pombal

As estadias serão aqui e aqui, respectivamente.
E a exploração à descoberta de coisas úteis para ver e fazer andará por aqui e por aqui.

Delicate



Hoje só me apetece dizer impropérios, gritar palavras obscenas, se for possível com altifalante. No cimo de uma montanha talvez. A que propósito? Sobre esta coisa da ausência. Ausência de emoções, ausência de calor, ausência de conhecer gente diferente, ausência de gente que nos estime. E que o  diga e demonstre claramente, sem medos. Ausência de uma vida normal, sei lá. Ausência de tudo. Como sou educada, vou só pensar nessas palavras feias e escrevê-las camufladas assim: %&%$/(()&/&&%&%%&()()JVFHGVH%$%&U)=(()(§€{[[}[}]}[

ADENDA: Nem a propósito. Depois de escrever as palavras acima, encontro as palavras abaixo:
 
solidão

não creio como eles crêem,
não vivo como eles vivem,
não amo como eles amam.
...

morrerei
como eles morrem.

Marguerite Yourcenar

segunda-feira, 22 de julho de 2013

@ blogosfera

Da série "textos encontrados ao acaso, pelo meio de tarefas do trabalho":

Há precisamente um ano morreu o meu pai. Escrevi este texto na altura para ultrapassar a imagem que me ficou gravada dos últimos momentos. Há dias mais complicados que outros, este é um deles. Volto ao texto como forma de sentido, a haver um 
Quando tinha sete anos descobri a morte. Percebi que havia uma espécie de parede inultrapassável e um tempo eterno sem nós. O céu e as nuvens que até ali me tinham parecido coloridos esmagavam-me. Até o silêncio se tinha tornado ruidoso. O meu pai pegou em mim e explicou-me nessa noite as vantagens de se morrer e que nós tínhamos o nosso tempo de eternidade. Na nossa vida havia um pedaço de infinito em que todos os segundos contavam. Era a morte que nos dava a urgência e a necessidade de nos superarmos. A vida podia enganar o tempo, bastava dar-lhe sentido. Ironizava comigo que se fosse possível congelar as pessoas, para lhes prolongar a vida quando a ciência estivesse mais desenvolvida, estaríamos a obrigar as pessoas do futuro a descongelar muita porcaria. Poucos meses depois, o meu pai esteve à beira da morte. Ia, com Lino de Carvalho ao volante, para um comício, vinham de várias directas e adormeceram. Esteve 15 dias em coma a lutar para viver. Sobreviveu com mazelas irrecuperáveis. Nunca aceitou as suas limitações. Tentou recuperar pela escrita e pelo trabalho aquilo que tinha perdido em capacidade.
O meu pai queixava-se de o meu avô ter morrido jovem e de nunca lhe ter dito o suficiente. O meu avô nunca o tinha visto jovem, nunca o tinha visto homem. A última imagem que tinha dele foi quando lhe tinham pedido que o beijasse morto e o meu pai, adolescente, só tinha conseguido chorar.
Tive a sorte de conhecer o meu pai. Um jovem de cabelo branco, preso pela primeira vez aos 17 anos, para quem as causas e as paixões eram a única razão para respirar. Corria atrás do tempo perdido em quatro anos nas celas de Peniche. Dizia-me que a minha geração tinha muito tempo de avanço e que nos cabia aproveitá-lo. Havia uma urgência ditada pela entrega política e pela necessidade de viver em permanente estado de paixão.
Quando a sombra frágil que está ligada à máquina falhar terá ficado nos seus a urgência em que na vida curta tudo vale a pena. As paixões como as revoluções são tentativas de rompermos as leis que nos condenam à mediocridade e à servidão. No fim estaremos todos mortos, o que conta é termos sido capazes de um gesto livre.
Cresci a escutar a história de uma revolta perdida. íamos mudando de país em país: Checoslováquia, Argélia, Suíça, França, e chegámos a Portugal como clandestinos. À noite o meu pai não se cansava de me contar, como se fosse um conto de fadas, a história da Revolta dos Anjos. Dizia-me que depois de muitos abusos e opressão, os anjos tinham decidido revoltar-se. Na véspera do grande dia, o líder dos revolucionários sonhou que triunfava e ocupava o trono do tirano. O pesadelo começava, pouco tempo depois, com a canga das coisas inevitáveis, os revoltados tornavam-se senhores em vez dos senhores que tinham jurado derrubar. Depois de acordar, Lúcifer teria desistido da insurreição. A história tinha uma moral óbvia que nos impelia à prudência. Contudo, teimávamos em não lhe obedecer, apesar de sabermos que a maior parte dos esforços são vãos.
Transformar o mundo e mudar de vida, como exigiam Marx e Rimbaud, parece muita vezes sem sentido. Mas há algum sentido em estar parado? Nos seus Provérbios do Inferno, William Blake garantia: “O que deseja e não age gera pestilência.”
 A guerra dos anjos revoltados contra o poder de Deus é uma guerra perdida. Mas é um grito contra a adversidade.
 Como escrevia Giambattista de Marino, no seu Satã, “[…] e mesmo se tombarmos vencidos, ter tentado tão alto feito é ainda um triunfo…”
 Da mesma forma que a nossa vida é um grito que ecoa no meio da morte.

Domingo fotográfico


 
E pronto, após um sábado descansado, estes foram os propósitos de um Domingo fotográfico.
 
Mudando de assunto, está praticamente decidido que, devido a um pequeno desentusiasmar e também devido ao episódio de saúde paterna da última sexta, que a mega viagem que tinha planeado fica adiada. Muito possivelmente vai transformar-se numa semana em Sintra e em mais outra em Viana do Castelo. O que também não é nada mau :)

sexta-feira, 19 de julho de 2013

"Coração Olha O Que Queres"



De vez em quando, entro numa "fase" em que quase só oiço fadunchos. Agora é a hora lol Prestes a entrar em mais um fds, com algum trabalho e, espero, outro tanto descanso (em maior quantidade, de preferência). Queria tanto, tanto ir à praia, o 1º dia lol, amanhã ou Domingo.... Depende do tempo, não sei se estará agradável o suficiente... Por agora fica o som maneirinho.

Sobre a viagem, já cá cantam coroas dinamarquesas, mas subsiste algum descontentamento por causa da pequena confusão que é comprar os bilhetes e fazer as reservas de lugares blhaccccc O ano passado foi bem mais fácil. A ver se volto à CP, para comprar de uma vez por todas o primeiro bilhete de ida e o último de regresso. O ano passado a coisa tb andou sobre rodas depois de fase. Mas já havia de ter sido RRssss Aver...

quinta-feira, 18 de julho de 2013

É que não tem nada a ver :)

 
Depois da pseudo-depressão pós-novas lunetas, lá pus a mão na consciência lol
Tive sorte de as anteriores serem xxl e deu para cortar na perfeição e pôr nestes.
Já tinha olhado para eles antes, mas como eram um pouco mais caros tinha optado pelos anteriores.
Voltei atrás e fiz muito bem. Agora sim :)

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Verso & Reverso




 
Uma tarde a meio gás hoje e muito muito gostosa, com uma multinha por excesso de velocidade pelo meio :/ foi castigo...

Não sei se ria, não sei se chore...


E é isto: De uma miopia que começou a despontar mais tarde do que é normal (aos 27), com uma graduaçãozita de 1,50 em ambos os olhos, passo agora a ter a admirável graduação de 2,25 no olho direito e 2.00 no esquerdo... Lunetas refrescadas para actualizar o look, mas que ontem só me pareceram que me fazem uma valente cota... blhacccc

terça-feira, 16 de julho de 2013

Trip

 
Ontem, ao final da noite, eram estes os propósitos em que se encontrava a minha cama. Sim, porque mesmo para férias (ou 2/3 de férias lol) tb é preciso estudar um bocadinho. E quando a coisa é 100% e literalmente por conta própria, maiores cuidados/ atenções são precisos. Parece-me então que após a compra de coroas dinamarquesas, a que procedi ontem, e com a compra do pass de comboio, que deverei confirmar hoje, a coisa passa a ser mesmo oficial. O mini pc vai atrás, pq tenciono manter um pouco da actividade matinal, sempre que consiga, mas é um gozo enorme estar a dias de voltar a tirar cá para fora o malão onde constam 5 emblemas (Portugal, Inglaterra, França, Glasgow e a minha vila) e onde espero que, daqui a 2 meses, mais coisa menos coisa, constem mais dois!
 
Mete medo? Pois claro que sim... Mas se não metesse não tinha piada, pois não? Nem esta viagem mais "pequena", nem a viagem maior que é a vida :)

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Um abraço

Já discorri aqui sobre isto, mas volto a fazê-lo, porque se há dias que se passam pacificamente, outros há em que isto bate forte, demasiadamente forte.

Poderia fazer aqui um discurso enorme a propósito. Estou, aliás, repleta de melancolia e tristeza suficientes para inspirar mil e um "teclanços". Mas deixo só uns quantos pares de perguntas:

O que é preciso fazer para se conseguir um abraço? Duas mãos quentes que nos segurem o rosto? Um peito firme que ampare o nosso? Nada de palavras. Não são precisas palavras. Por agora era só mesmo um abraço quente, gostoso, interminável. Daqueles que se vêem nos filmes. Não sei como conseguir. Tantas tentativas falhadas, tanta vontade que se dissipa no vazio. Implora-se? Em que balcão? Compra-se um pequeno post-hit para colar na testa e, assim, haver alguma alma caridosa que repare em nós? Como é que se faz? Alguém que me ensine, por favor. Acho que sou bem capaz de morrer sem descobrir.

Para Maria


sexta-feira, 12 de julho de 2013

Making your own happiness







É emocionante/ revigorante/ entusiasmante (e tb novamente um pouco assustador, pelo cariz solitário) ver nascer no pensamento e agora tornar-se cada vez mais real a nova aventura que idealizei ou, melhor, que fui idealizando. Entusiasmante talvez seja o adjectivo que se mostra prevalecente. Se não é, temos de fazer força para se passe a ser!  Desta vez, há alguma dificuldade em adquirir os bilhetes todos, uma vez que se trata de uma viagem/ estadia essencialmente em 2 países, mas com passagem em 3 outros e dormida durante a noite em 2 desses 3. Confuso? Nahhhh Mas julgo que com mais uma ida com tempo aqui à cidade vizinha, a coisa se resolver. E da próxima semana não pode passar. É que, pensando que não, o tempo passa a correr. E à velocidade da luz... Posto isto, agora é sorri com a emoção e voltar a acreditar no seguinte: Vou conseguir ir. E voltar. Sozinha. No íntimo permanece o desejo de, um dia, partilhar esta aventura (que é de facto a maior aventura da minha vida!) com alguém especial. Por agora, sigo eu comigo :)

Pretty Woman



Um filme maneirinho, típico dos 80/90. Um baladão, quem resiste?
Entrett, acho estive quase, quase a desistir da nova aventura deste ano, a ver que a coisa rola :)

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Bryan Adams - On A Day Like Today



Um dia, hei-de lá chegar...

terça-feira, 9 de julho de 2013

Hoje é o dia

 
Se há dias em que não vislumbramos caminho seguro por onde seguir;
Em que não vemos o chão para nos aparar a queda;
Em que olhamos para dentro e não vemos ponta por onde se lhe pegue;
Não vemos virtude alguma;
Em que não achamos motivo para o nosso rumo ser o que é;
Em que, a custo, levantamos a cabeça para tentar ver mais além
E o que surge é uma neblina que nos cobre.
A nós e ao nosso futuro.
Se há dias assim. Hoje é o dia.
:(
 
 
 

sábado, 6 de julho de 2013

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Past vs Future

 
Quero crer.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Mini-serviço



Um achado recente. Um mini-serviço (para 2 pessoas lol) vermelho e preto. Abri a caixa para "averiguar" a aquisição. Boa aquisição. Mini-aquisição :) Voltei a fechar. Guardei-a. Só há uma pessoa para a usar.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Avó



Já fiz aqui uma enumeração idêntica à que vou fazer por este instante. Repito-a hoje, porque a recordação da minha avó é muito intensa. Muito mesmo. Acho que as avós e as netas têm uma relação muito especial. Eu tive, sem dúvida, com a única que conheci. Uma ligação fisicamente cada vez mais distante no tempo, mas que cá dentro jamais se apagou. Tive a felicidade de conviver com ela durante os 19 primeiros anos da minha vida. Pena não terem sido mais. Uma convivência que durava o ano todo. Tenho recordações do Outono, do Inverno, da Primavera e do Verão. E por ter subido à instantes uma rua cheia de Sol e calor, são estas últimas que vou recordar. Morávamos a uma distância de 5 minutos a pé. Mas nas férias, eu punha a trouxa nuns saquitos e descia o carreiro, dizendo orgulhosamente que ia passar férias para casa da minha avó. E ali passava dias numa felicidade só.
- Era o jarro de plástico vermelho com água com açúcar e pão os bocaditos mergulhado e comido;
- Era a salada de atum com tomate;
- Era a roupa passada em cima da mesa da cozinha, com o ferro e aquele pano amarelo;
- Era o relógio azul, de corda, que guardo religiosamente comigo;
- Era a cadeira vermelha;
- Era a mangueira fininha para regar as flores;
- Era o fogãozito com duas bocas, onde aprendi a fazer caldo de bacalhau com batatas e arroz (de que tanto continuo a gostar hoje);
- Era o frasco de colorau;
- Era a televisão branca por fora e a preto e branco na imagem;
- Era a ida à missa ao sábado;
- Era o gelado feast e o sumol de ananás;
- Era a bata com a combinação, roupa suficiente para os dias mais agrestes;
- Era a renda, ah a renda (no Verão eram mais peças de linha branca, mais fresquinha);
- Tantas e tantas recordações, que se me afloram diariamente.

Era, já não é.

P.S.: "Gosto" de imaginar que, algures, era olha por mim. E que, lá de cima, repete em surdina os conselhos que me dava em vida. Às vezes, acredito piamente que ela subiu aos céus e se tornou no meu anjo da guarda. Quero crer que ela está aqui, mesmo atrás do meu ombro e que me dá a mão, pelos meio desta solidão, por vezes atroz...