segunda-feira, 1 de julho de 2013

Avó



Já fiz aqui uma enumeração idêntica à que vou fazer por este instante. Repito-a hoje, porque a recordação da minha avó é muito intensa. Muito mesmo. Acho que as avós e as netas têm uma relação muito especial. Eu tive, sem dúvida, com a única que conheci. Uma ligação fisicamente cada vez mais distante no tempo, mas que cá dentro jamais se apagou. Tive a felicidade de conviver com ela durante os 19 primeiros anos da minha vida. Pena não terem sido mais. Uma convivência que durava o ano todo. Tenho recordações do Outono, do Inverno, da Primavera e do Verão. E por ter subido à instantes uma rua cheia de Sol e calor, são estas últimas que vou recordar. Morávamos a uma distância de 5 minutos a pé. Mas nas férias, eu punha a trouxa nuns saquitos e descia o carreiro, dizendo orgulhosamente que ia passar férias para casa da minha avó. E ali passava dias numa felicidade só.
- Era o jarro de plástico vermelho com água com açúcar e pão os bocaditos mergulhado e comido;
- Era a salada de atum com tomate;
- Era a roupa passada em cima da mesa da cozinha, com o ferro e aquele pano amarelo;
- Era o relógio azul, de corda, que guardo religiosamente comigo;
- Era a cadeira vermelha;
- Era a mangueira fininha para regar as flores;
- Era o fogãozito com duas bocas, onde aprendi a fazer caldo de bacalhau com batatas e arroz (de que tanto continuo a gostar hoje);
- Era o frasco de colorau;
- Era a televisão branca por fora e a preto e branco na imagem;
- Era a ida à missa ao sábado;
- Era o gelado feast e o sumol de ananás;
- Era a bata com a combinação, roupa suficiente para os dias mais agrestes;
- Era a renda, ah a renda (no Verão eram mais peças de linha branca, mais fresquinha);
- Tantas e tantas recordações, que se me afloram diariamente.

Era, já não é.

P.S.: "Gosto" de imaginar que, algures, era olha por mim. E que, lá de cima, repete em surdina os conselhos que me dava em vida. Às vezes, acredito piamente que ela subiu aos céus e se tornou no meu anjo da guarda. Quero crer que ela está aqui, mesmo atrás do meu ombro e que me dá a mão, pelos meio desta solidão, por vezes atroz...

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