“De vez em quando, acontece uma pequena coisa que nos
lembra quem somos.
Um tipo nasce
um calhau, depois vai sendo esculpido e depois levam-no a passear, põem-no em
exposição, tiram-lhe fotografias, penduram-lhe coisas ao pescoço, dão-lhe o
suposto mundo, e, às tantas, uma pessoa já não sabe se é a pedra original, a
estátua – por mais bruta ou primária – nela esculpida, ou tudo quanto lhe
puseram em cima. É a diferença entre o excesso que se tirou e o supérfluo
acrescentado.
Às vezes,
esquecemo-nos, mas o que somos é o que está ali no meio.
Como tivemos a
sorte de viver até ver o dia de hoje – e, tudo correndo bem, também o de amanhã
– foi-nos pedido em contrapartida que tivéssemos bastante mais elasticidade do
que aqueles que nos precederam. Viajaríamos mais, veríamos mais, leríamos mais,
ouviríamos mais, provaríamos mais, conheceríamos mais – também tínhamos de
compreender mais. (…)
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