quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Entusiasmo & "Epitáfio"

Já fiz aqui referência a um documentário em que estou a trabalhar, sobre um poeta aqui da terra, Políbio Gomes dos Santos. Hoje tive de forçosamente ficar até mais tarde, para adiantar 2 outros trabalhos, mas fui tb adiantando as pontas neste. Há já algum tempo que não sentia um entusiasmo tão assoberbado como o que sinto por estes dias, entusiasmo em relação ao trabalho e somente em relação ao trabalho. Apetece-me ficar aqui a noite toda a trabalhar, a cortar, a colar, a escrever. A fazer o mais belo documentário que eu conseguir. Até ficava, mas é melhor ir dormir... Mas só um pouco porque às 6h00 já estarei a acordar novamente.

Até lá fica um dos poemas, apenas um bocadinho da sombra de alguém que já se foi e que eu descobri. Acho que é essa sombra, de um conterrâneo, que me inspira neste entusiasmo :)


Epitáfio - Março de 1939



Menino, bem menino, fiz o meu balão.


Papel de seda às cores...


- Tantas eram!


Ai, nunca mais as vi, nos olhos se perderam.


Quando a tarde morria o meu balão subiu


E tão direito ia, tão veloz correu


Que eu disse: "Vai tombar a Lua


E talvez queime o céu".



Anoiteceu.


E no horizonte o meu balão era uma rosa


Vermelha, não minha, aflitiva,


Murchando,


Poisando na água pantanosa


De além.



Ninguém o viu.


Ninguém colheu a angústia dum balão ardendo,


Somente a água verde rebrilhou acesa,


Clamorosa e podre,


Como nos incêndios de Veneza.


E rãs, acreditando o mal mortal e seu,


Foram fugindo, pela noite fria,


Do balão que ardeu.



Ó tu, quem sejas, o balão fui eu!

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