terça-feira, 17 de julho de 2018

O amor


Está a fazer 11 anos que te conheci. Fui eu que forcei o contacto internáutico. E correram muito bem todos os momentos mansinhos em que estiveste presente. Conheci-te na altura perfeita da minha vida, mas já era a mais na tua. Não sei se ainda te entrarão no pensamento alguns desses momentos, que para mim foram muito fortes e mágicos. Do meu ainda não saíram.

Aquela noite em que te encontrei de óculos na mesa de café. A mesma noite em que medimos a palma das mãos. Não te deves lembrar disso. Lembro-me do teu carro branco, que estacionavas junto ao campo do teu desporto favorito. Que eu também ia (tentar) jogar. Apesar de ter comprado uma bola tamanho criança, que te cabia na palma da mão, como conferiste! Lembro-me quando fui ver um filme na tua casa de estudante. Lembro-me de ter perguntado se não te importavas que tirasse as sapatilhas e de teres respondido: "Estava a ver que não!". Lembro-me do primeiro beijo que me deste. E do que voltaste a dar dois dias depois. E também não esqueço, julgo que sinto ainda, o arrepio de felicidade e emoção quando, sentada no trabalho citadino, absorvia toda aquela novidade avassaladora. Recordo o cigarro pensativo e nervoso que fumaste quando me disseste que não querias problemas. Foi tão difícil de ouvir. Porque tu eras a solução. Na verdade, ainda não encontrei mais nenhuma que se me colasse tanto à pele.

Lembro-me dos desabafos telefónicos e internáuticos que fui tendo contigo ainda durante alguns anos, bem espaçados no tempo. E estavas sempre lá a ouvir, apesar de longe. Gostava do interesse que ainda sentia que tinhas pela minha vida. Sem saber se tinhas efectivamente.

Fui sabendo que casaste, uns dias antes de fazeres anos, julgo. Que a vida seguiu e já te deu um filho. E foi justamente aí, nessa etapa, que disse cá para dentro: "Acabou. Não sonhes mais, poderia ter dado, mas não deu. A vida é assim mesmo."

Escrevi-te uma vez aquilo que adjectivei de carta de amor dos tempos modernos. Digitei outras tantas, como a deste instante, que se está a desenrolar quase com vida própria por este teclado acima.

Ao longo destes anos, para além da inquietude e da pena imensa de não ter ficado contigo, chorei algumas vezes, como é apanágio de (quase) todos os amores platónicos. Mas também sorri.

Apesar de teres dois corações, para além do teu, gostava, no meu íntimo, que o meu amor ainda te abraçasse um bocadinho. Podia ser só mesmo com o formato de um conforto quando estivesses mais triste ou de um sorriso que lançasses sem motivo aparente.

Há uns dias, quis muito que soubesses da minha conquista maior: a minha casa. E é essa minha conquista que faz com que veja, cada vez com mais tranquilidade, o maravilhoso 2007.

Apaguei já há bastante tempo o número do teu telemóvel, que guardei docemente. De vez em quando, espreito o rasto virtual da tua vida. Na verdade, julgo que o vou continuar a fazer. Just here and then. Até que chegue outra pessoa. Chegará?

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